O dia amanheceu parcialmente nublado e com as ruas e calçadas sequinhas. Nuvens de altitude podiam ser avistadas movendo-se lentamente, algodão doce permitindo a visão de grandes trechos de céu azul claro. Uma leve brisa era percebida pelo movimento sutil na folhagem das árvores da pracinha. Temperatura de 23,0C, às sete e vinte nove dessa quadragésima primeira manhã de outono.
algodão doce
nuvem branca que passa
me lembra você
A passarada, como sempre acontece quando não está chovendo, fez grande algazarra desde as primeiras horas de claridade. Diversos cantos e trinados vindos das copas das árvores e dos telhados da vizinhança em todas as direções. Bandos de aves aquáticas cruzaram o céu e o canto do bem-te-vi, sempre o primeiro, foi ouvido da antena de TV.
As flores da azaleia, que explodiram em beleza e vitalidade nas últimas semanas, se despedem sem alarde. Vida breve, colorida e delicada que se transforma, perde a cor, murcha, se desprende e vira adubo para a própria planta no vaso, para contribuir para o surgimento de nova florada, no seu devido tempo. Quero aprender a viver, envelhecer e morrer assim…
Na meditação de hoje, de olhos abertos, olhar suave na paisagem mutante, vista através dos vidros da varanda. Depois disso, durante o período de contemplação e reflexões, apreciando o fim de uma florada da azaleia, a inspiração para um breve haicai:
murcha, perde cor,
vida breve da flor… ah!
sem nenhuma dor!
Eduardo Leal
Fotos de Eduardo Leal